Bom dia,
Mais uma vez o Larouco vai ficar gravado na minha memória de uma forma indelével depois de mais esta prova fantástica. Em 2006 fiz lá a minha primeira distância e agora o meu primeiro golo, o meu recorde pessoal de distância e acima de tudo a chegada ao golo lado a lado com o meu amigo Bruno!!! A marcar também a prova ficou a primeira vitória por equipas do CMA este ano no campeonato nacional. Estamos todos de Parabéns!
No primeiro dia, para não variar fomos para Chaves. Vento muito lateral na descolagem e com alguma intensidade deixou todos com alguma vontade de não descolar, mas depois lentamente fomos acreditando que seria possível descolar e tentar fazer alguma coisa. Descolei mesmo no fim da janela. O vento já se tinha imposto com alguma intensidade no vale mas mesmo assim consegui subir à frente da descolagem e ganhar alguma altura para seguir ao longo do vale e tentar sair, mas na verdade a deriva da térmica era forte e não estava suficientemente alto para sair. Vim para o vale para um monte careca que estava rodeado de campos lavrados e a serem regados na esperança de apanhar um canhão mas aquela hora nem tiros de pistola e fiquei por ali no vale.
Segundo dia novamente Chaves. O dia estava ventoso e com algumas nuvens mas o vento foi acalmando e rapidamente se percebeu que íamos ter manga. Vento de frente, bom para descolar e cúmulos no céu prometiam uma boa manga. Subi logo, na descolagem ainda andei com o Bruno à esquerda, da descolagem, mas não subi muito. O pessoal do grupo da frente iniciou a transição e a maioria foi com eles. Eu voltei para o trás para a esquerda da descolagem onde tinha visto o Pedro Moreira a subir antes, mas na verdade perdi uns 300 metros e nada. Depois vi um grupo de 3 pilotos a subir à direita da descolagem, mais baixos, numa térmica que parecia ser boa e fui de acelerador a fundo até eles. Boa opção porque essa térmica levou-nos até à base da nuvem e tive mesmo de fazer orelhas para não desaparecer por ali dentro. Depois mantive-me debaixo da nuvem em direcção à primeira baliza. A maioria da malta que tinha saído no primeiro grupo estava agora muito baixo junto à primeiro baliza, o que me dava referências para subir, mas me preocupava um pouco, pois em condições normais deviam estar a subir. Nesta transição ainda tive de dar a volta à nuvem porque ela se encontrava mais baixa do que eu e não quis voltar a entrar nela. Entretanto piquei a baliza e começo a seguir em direcção à segunda. Nisto alguns pilotos que não tinham picado a baliza voltam para trás para a picar enquanto eu seguia para a segunda baliza. No caminho vejo muita gente no chão porque toda a área estava já à sombra e forço o acelerador para sair dali. Quando fiquei um pouco mais baixo tentei encontrar uma térmica para voltar a subir. Estávamos uns 5 pilotos à procura, Lacerda, Baía, Paulo Branco. Já estava a escolher um campo em caso de necessidade, quando encontramos a térmica, fraca, muito partida, difícil de perceber e não me entendi com ela. Fui para o chão. Já não cheguei ao campo que tinha seleccionado e tive de aterrar num campo com pinheiros baixos, no caminho de entrada do campo. Aaterrei bem depois mas no chão tinha pinheiros dos dois lados e alguns fios da banda direita ficaram em cima de um pinheiro. Com a ajuda de 2 lavradores que passavam lá consegui tirar os fios do pinheiro e fui recolhido de moto 4 até ao café da aldeia onde me encontrei com o meu amigo Cristiano para uma fresquinha. O parapente também é isto!
Terceiro dia, finalmente Larouco. O vento estava lateral de Leste e o tecto não era muito elevado, cerca de 2000m, 500 acima da descolagem. Uma manga em triangulação com o golo em Montalegre parecia ser uma manga divertida. Subi com alguma dificuldade na montanha onde não estava fácil até aos 1600m e depois de ter ganho avancei um pouco para o vale e rapidamente perdi altura mas voltei a recuperar, segui com a Silvia e o Paulo Nunes em gralhas e cometi o erro de não subir tudo nesta térmica. A térmica era partida. Metade da volta subia na outra descia e então decidi avançar porque tinha um grupo de pilotos baixo já a seguir a gralhas a tentar subir. Cheguei á térmica, subi até cerca de 1400m e achei que não era suficiente para avançar para cima da cordilheira à frente de Solveira. Avancei um pouco mais para onde estavam o Guedes e o Arsénio a subir. O Baía veio comigo, dando força a esta opção. Contudo o Arsénio ficou por ali, o Baía salvou-se no chão e eu aterrei num monte limpinho perto de Solveira. Estava a cerca d 1,5Km da aldeia num ponto alto mas tinha 150 metros de giestas com 3 metros de altura para atravessar, num desnível de uns 50 metros e fiquei 2 horas no mato à espera da recolha. Sim, o parapente também é isto! Desde já um agradecimento à organização pela recolha que normalmente apenas é efectuada em estradas de alcatrão e aldeias, especialmente ao Rui e ao Arsénio . Acabamos todos no café da aldeia a hidratar!!!!
Quarto dia, quarta manga. Após 3 dias de competição, uma previsão fabulosa. Depois de 3 dias no centro de alto rendimento de São Pedro a ingerir poções mágicas, estava um pouco quebrado enquanto subíamos para a descolagem. Mas rapidamente meti na cabeça que era o último dia e que ia dar tudo o que tinha e o golo era a única aterragem oficial. Passámos a falar da aterragem à frente do monte como a aterragem de emergência. LOL
Os ciclos entravam com alguma intensidade o que obrigou a alguma atenção na descolagem mas o que dava algum apoio caso fosse necessário esperar pela próxima térmica. Subi logo ao início mas depois levei algum tempo até subir aos 2400 e decidir avançar para o start e para a baliza à esquerda da descolagem. Fui para lá de acelerador, para ver se picava a baliza e voltava à baliza da descolagem ainda com alguma altitude de reserva. Havia um grupo a fazer a transição pelo meio do vale e eu optei por seguir mais pelo lado do monte. Correu bem, a malta do vale ficou baixa eu consegui picar e voltar e só necessitei de subir a cerca de 2,5 km da baliza da descolagem. Depois de picar, voltei á térmica onde tinha subido anteriormente e com o Baia e o Pedro Rodrigues subimos até aos 3000m. A minha intenção era seguir atrás deles para ter pontos de referência até à próxima baliza Contudo como ia uns 300m acima deles ultrapassei-os a caminho da terceira baliza. Na terceira baliza tomei uma decisão arriscada, que foi ir picar a baliza e depois voltar para a térmica onde andava já o Hugo Almeida e o Baía a subir. Eles ficaram bastante mais altos e eu tive alguma dificuldade a subir neste ponto mas lá me safei. Depois a paisagem era magnífica, uma planície com aldeias e terrenos desenhados a régua e esquadro. Fui andando pela planície, mais pela direita, umas vezes a subir outra a descer mas sempre com um bom planeio. Lá à frente vejo alguns pilotos muito baixos, numa aldeia antes de uma cordilheira de montes, começo a ver se conseguem subir e vou tentando não perder muita altitude. Cheguei a esta aldeia e vi alguns pilotos a “marrecar” junto à cordilheira. Decidi ficar na aldeia a tentar subir. Pela primeira vez consegui estar 20minutos em cima da aldeia a “zerar” a subir, a descer…nesta altura já pensava que era inglório aterrar a 6kms do golo, ainda por cima depois de ter abandonado uma térmica com o Hugo, que era fraca e derivava para longe do golo. Este que parecia ser um calvário acabou por ser um dos momentos mais emocionantes que tive no parapente. Enquanto estava à sobreviver vejo uma asa azul a vir na minha direcção, depois um capacete vermelho. Era o Bruno que andava muito atrasado e finalmente tinha chegado ao pé de mim, no exacto momento que o Guedes e a térmica que nos iriam levar ao golo.Foi um momento indescritível, à medida que íamos subindo e ganhando a percepção que o golo estava já ao nosso alcance. As emoções estavam no limite e a adrenalina no máximo. Depois a transição para o golo, lado a lado com o Bruno, que ainda teve tempo para filmar e fotografar a chegada ao GOLOOOO!!!A verdade é que sonhava com este momento, ha já algo tempo e digo-vos, a realidade superou largamente os meus sonhos mais perfeitos!Fica aqui este “pequeno” resumo dos dias passados em Montalegre a voar e no centro de alto rendimento de São Pedro, com a vontade de chegar ao golo mais vezes e se possível na companhia de todos os que nos são próximos ( e dos outros também….desde que o CMA ganhe).
Um Abraço e Bons Voos,
Tenera
p.s. Encontramo-nos em Linhares.....