quarta-feira, 21 de julho de 2010

Montalegre 2010 O Primeiro Golo

Bom dia,

Mais uma vez o Larouco vai ficar gravado na minha memória de uma forma indelével depois de mais esta prova fantástica. Em 2006 fiz lá a minha primeira distância e agora o meu primeiro golo, o meu recorde pessoal de distância e acima de tudo a chegada ao golo lado a lado com o meu amigo Bruno!!! A marcar também a prova ficou a primeira vitória por equipas do CMA este ano no campeonato nacional. Estamos todos de Parabéns!

No primeiro dia, para não variar fomos para Chaves. Vento muito lateral na descolagem e com alguma intensidade deixou todos com alguma vontade de não descolar, mas depois lentamente fomos acreditando que seria possível descolar e tentar fazer alguma coisa. Descolei mesmo no fim da janela. O vento já se tinha imposto com alguma intensidade no vale mas mesmo assim consegui subir à frente da descolagem e ganhar alguma altura para seguir ao longo do vale e tentar sair, mas na verdade a deriva da térmica era forte e não estava suficientemente alto para sair. Vim para o vale para um monte careca que estava rodeado de campos lavrados e a serem regados na esperança de apanhar um canhão mas aquela hora nem tiros de pistola e fiquei por ali no vale.

Segundo dia novamente Chaves. O dia estava ventoso e com algumas nuvens mas o vento foi acalmando e rapidamente se percebeu que íamos ter manga. Vento de frente, bom para descolar e cúmulos no céu prometiam uma boa manga. Subi logo, na descolagem ainda andei com o Bruno à esquerda, da descolagem, mas não subi muito. O pessoal do grupo da frente iniciou a transição e a maioria foi com eles. Eu voltei para o trás para a esquerda da descolagem onde tinha visto o Pedro Moreira a subir antes, mas na verdade perdi uns 300 metros e nada. Depois vi um grupo de 3 pilotos a subir à direita da descolagem, mais baixos, numa térmica que parecia ser boa e fui de acelerador a fundo até eles. Boa opção porque essa térmica levou-nos até à base da nuvem e tive mesmo de fazer orelhas para não desaparecer por ali dentro. Depois mantive-me debaixo da nuvem em direcção à primeira baliza. A maioria da malta que tinha saído no primeiro grupo estava agora muito baixo junto à primeiro baliza, o que me dava referências para subir, mas me preocupava um pouco, pois em condições normais deviam estar a subir. Nesta transição ainda tive de dar a volta à nuvem porque ela se encontrava mais baixa do que eu e não quis voltar a entrar nela. Entretanto piquei a baliza e começo a seguir em direcção à segunda. Nisto alguns pilotos que não tinham picado a baliza voltam para trás para a picar enquanto eu seguia para a segunda baliza. No caminho vejo muita gente no chão porque toda a área estava já à sombra e forço o acelerador para sair dali. Quando fiquei um pouco mais baixo tentei encontrar uma térmica para voltar a subir. Estávamos uns 5 pilotos à procura, Lacerda, Baía, Paulo Branco. Já estava a escolher um campo em caso de necessidade, quando encontramos a térmica, fraca, muito partida, difícil de perceber e não me entendi com ela. Fui para o chão. Já não cheguei ao campo que tinha seleccionado e tive de aterrar num campo com pinheiros baixos, no caminho de entrada do campo. Aaterrei bem depois mas no chão tinha pinheiros dos dois lados e alguns fios da banda direita ficaram em cima de um pinheiro. Com a ajuda de 2 lavradores que passavam lá consegui tirar os fios do pinheiro e fui recolhido de moto 4 até ao café da aldeia onde me encontrei com o meu amigo Cristiano para uma fresquinha. O parapente também é isto!

Terceiro dia, finalmente Larouco. O vento estava lateral de Leste e o tecto não era muito elevado, cerca de 2000m, 500 acima da descolagem. Uma manga em triangulação com o golo em Montalegre parecia ser uma manga divertida. Subi com alguma dificuldade na montanha onde não estava fácil até aos 1600m e depois de ter ganho avancei um pouco para o vale e rapidamente perdi altura mas voltei a recuperar, segui com a Silvia e o Paulo Nunes em gralhas e cometi o erro de não subir tudo nesta térmica. A térmica era partida. Metade da volta subia na outra descia e então decidi avançar porque tinha um grupo de pilotos baixo já a seguir a gralhas a tentar subir. Cheguei á térmica, subi até cerca de 1400m e achei que não era suficiente para avançar para cima da cordilheira à frente de Solveira. Avancei um pouco mais para onde estavam o Guedes e o Arsénio a subir. O Baía veio comigo, dando força a esta opção. Contudo o Arsénio ficou por ali, o Baía salvou-se no chão e eu aterrei num monte limpinho perto de Solveira. Estava a cerca d 1,5Km da aldeia num ponto alto mas tinha 150 metros de giestas com 3 metros de altura para atravessar, num desnível de uns 50 metros e fiquei 2 horas no mato à espera da recolha. Sim, o parapente também é isto! Desde já um agradecimento à organização pela recolha que normalmente apenas é efectuada em estradas de alcatrão e aldeias, especialmente ao Rui e ao Arsénio . Acabamos todos no café da aldeia a hidratar!!!!

Quarto dia, quarta manga. Após 3 dias de competição, uma previsão fabulosa. Depois de 3 dias no centro de alto rendimento de São Pedro a ingerir poções mágicas, estava um pouco quebrado enquanto subíamos para a descolagem. Mas rapidamente meti na cabeça que era o último dia e que ia dar tudo o que tinha e o golo era a única aterragem oficial. Passámos a falar da aterragem à frente do monte como a aterragem de emergência. LOL
Os ciclos entravam com alguma intensidade o que obrigou a alguma atenção na descolagem mas o que dava algum apoio caso fosse necessário esperar pela próxima térmica. Subi logo ao início mas depois levei algum tempo até subir aos 2400 e decidir avançar para o start e para a baliza à esquerda da descolagem. Fui para lá de acelerador, para ver se picava a baliza e voltava à baliza da descolagem ainda com alguma altitude de reserva. Havia um grupo a fazer a transição pelo meio do vale e eu optei por seguir mais pelo lado do monte. Correu bem, a malta do vale ficou baixa eu consegui picar e voltar e só necessitei de subir a cerca de 2,5 km da baliza da descolagem. Depois de picar, voltei á térmica onde tinha subido anteriormente e com o Baia e o Pedro Rodrigues subimos até aos 3000m. A minha intenção era seguir atrás deles para ter pontos de referência até à próxima baliza Contudo como ia uns 300m acima deles ultrapassei-os a caminho da terceira baliza. Na terceira baliza tomei uma decisão arriscada, que foi ir picar a baliza e depois voltar para a térmica onde andava já o Hugo Almeida e o Baía a subir. Eles ficaram bastante mais altos e eu tive alguma dificuldade a subir neste ponto mas lá me safei. Depois a paisagem era magnífica, uma planície com aldeias e terrenos desenhados a régua e esquadro. Fui andando pela planície, mais pela direita, umas vezes a subir outra a descer mas sempre com um bom planeio. Lá à frente vejo alguns pilotos muito baixos, numa aldeia antes de uma cordilheira de montes, começo a ver se conseguem subir e vou tentando não perder muita altitude. Cheguei a esta aldeia e vi alguns pilotos a “marrecar” junto à cordilheira. Decidi ficar na aldeia a tentar subir. Pela primeira vez consegui estar 20minutos em cima da aldeia a “zerar” a subir, a descer…nesta altura já pensava que era inglório aterrar a 6kms do golo, ainda por cima depois de ter abandonado uma térmica com o Hugo, que era fraca e derivava para longe do golo. Este que parecia ser um calvário acabou por ser um dos momentos mais emocionantes que tive no parapente. Enquanto estava à sobreviver vejo uma asa azul a vir na minha direcção, depois um capacete vermelho. Era o Bruno que andava muito atrasado e finalmente tinha chegado ao pé de mim, no exacto momento que o Guedes e a térmica que nos iriam levar ao golo.Foi um momento indescritível, à medida que íamos subindo e ganhando a percepção que o golo estava já ao nosso alcance. As emoções estavam no limite e a adrenalina no máximo. Depois a transição para o golo, lado a lado com o Bruno, que ainda teve tempo para filmar e fotografar a chegada ao GOLOOOO!!!A verdade é que sonhava com este momento, ha já algo tempo e digo-vos, a realidade superou largamente os meus sonhos mais perfeitos!Fica aqui este “pequeno” resumo dos dias passados em Montalegre a voar e no centro de alto rendimento de São Pedro, com a vontade de chegar ao golo mais vezes e se possível na companhia de todos os que nos são próximos ( e dos outros também….desde que o CMA ganhe).

Um Abraço e Bons Voos,

Tenera

p.s. Encontramo-nos em Linhares.....

1 comentário:

  1. Viva!
    Já foi dito quase tudo. Ainda assim, deixo aqui algumas reflexões sobre o Open de Montalegre.
    Foram quatro dias de voo, cada dia com as suas características próprias. No primeiro dia, com descolagem em Chaves, o vento lateral e a pequena dimensão da descolagem dificultavam a saída dos pilotos. No entanto, o pessoal lá foi saindo, tendo tarefa bastante trabalhosa no ar, pois o vale estava bastante varrido. As condições, quando estão menos boas, levam a que o pessoal se aplique ao máximo.
    No 2º dia, a manhã começa com muitas nuvens, mas a condição vai melhorando ao longo do dia. O vento está de feição para descolar e o céu cheio de cúmulos, com muito bom aspecto. A manga definida tinha duas balizas e golo em Macedo, com uma distância de cerca de 45 Km. A maioria dos pilotos acaba por marrecar junto à primeira baliza, pois estava tudo à sombra. Eu saí com o GPS ligado mas sem a rota activa e só dei por isso já ia a caminho da primeira baliza. Tento voltar atrás, mas era difícil enfrentar o vento... Não consigo acertar o GPS em voo e o stress estava a aumentar...Decido esquecer as balizas e fazer o meu voo, enquanto desse. Vejo que o local da primeira baliza está tudo à sombra e opto por seguir mais à direita, em direcção a Valpaços, onde era a 2ª baliza. Aí, a térmica estava a funcionar e vou prosseguindo o voo, tendo-me juntado a alguns pilotos, durante algum tempo (Paulo Herculano, Alex, Ivo). Prosseguimos a rota, atravessamos o rio a norte de Mirandela, passo pelo IP4 e depois vou em direcção a Macedo. Parecia tudo fácil, estava deslumbrado com as paisagens e com o voo fantástico que estava a fazer, que até me esqueci de ir aterrar na aterragem oficial de Macedo...(o golo).
    O 3º dia leva-nos para a descolagem sul do Larouco, onde o vento está um bocado lateral. O dia está difícil e são poucos os sobreviventes que chegam ao fim da manga.
    O 4º dia promete , com vento de feição para descolar no Larouco sul e com tectos mais altos que nos dias anteriores. Este foi um dia especial para muitos pilotos que chegaram pela primeira vez ao golo! No meu caso, cometi alguns erros, as opções não foram as melhores e acabei por marrecar ao fim de uma hora de voo. Isto aconteceu porque apanhei uma boa térmica e não a explorei até ao fim, tendo saído da mesma, a pensar que já tinha altitude suficiente para prosseguir. Puro engano!
    No entanto, creio que a participação foi muito positiva em termos de evolução e aprendizagem. Retiro algumas conclusões:
    -Não desistir; ter muita paciência; tirar o melhor partido da térmica; acreditar até ao fim; elaborar uma boa "check list"; descolar e aterrar bem; não ficar para o fim na descolagem; ...
    E pronto, a malta está motivada e espero que os pilotos mais novos tenham ficado com vontade de participar em futuras provas!

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